TOXICOMANIAS E ALCOOLISMO (TyA-Rio)
- Coordenação: Sarita Gelbert e Rodrigo Abecassis
- Periodicidade e horário: 1ª e 3ª terças feiras do mês, às 20h00
- Início: terça-feira 15 de março
Adictos e adições na contemporaneidade
Iniciaremos nossa proposta de pesquisa com um recorte freudiano:
“Pois a necessidade sexual, uma vez despertada e satisfeita por algum tempo, não pode mais ser silenciada; só pode ser deslocada por outro caminho. Aliás, o mesmo se aplica a todos os tratamentos para romper com um vício. Seu sucesso será apenas aparente enquanto o médico se contentar em privar seus pacientes da substância narcótica, sem se importar com a fonte de que brota sua necessidade imperativa. O “hábito” é uma simples palavra, sem nenhum valor explicativo. Nem todos os que têm oportunidade de tomar morfina, cocaína, hidrato de cloral etc. por algum tempo adquirem dessa forma “um vício”. A pesquisa mais minuciosa geralmente mostra que esses narcóticos visam a servir – direta ou indiretamente – de substitutos da falta de satisfação sexual; e sempre que a vida sexual normal não pode mais ser restabelecida, podemos contar, com certeza, com uma recaída do paciente”[1].
Freud em sua genialidade, nos apresenta em poucas linhas qual é o lugar e a função que as drogas podem ocupar na economia pulsional de um sujeito. Ao afirmar que a causa das drogadições não está situada na droga ou no hábito, ele nos mostra a atualidade de seu pensamento diante da oferta de “tratamentos” por vieses moralistas religiosos, como também, pelo campo dos novos transtornos e adições, vinculados ao DSM V, conjugados ao discurso capitalista.
Nossa proposta de trabalho para o próximo semestre visará um campo de pesquisa aparentemente diferente, do que costumamos compreender sobre as toxicomanias. Em geral, há um olhar sobre a clínica com as toxicomanias que parece distante daqueles que não trabalham diretamente com ela. É comum o entendimento de que o toxicômano (de fato notamos isso em artigos e casos apresentados) está circunscrito a uma gravidade e radicalidade de gozo, que coloca em xeque, muitas vezes, os limites da psicanálise. No entanto, percebemos que o uso de drogas lícitas, como os antidepressivos e calmantes (que aumentaram o consumo durante o ápice dos períodos de lockdown no Brasil), tornaram-se banalizados, assim como, o uso crescente de aplicativos e redes sociais na pandemia. Nessa direção, a partir do que Sinatra denomina de toxicomania generalizada2, torna-se premente que nos debrucemos sobre o que se apresenta na cultura e na clínica cotidiana. Logo, nos perguntamos sobre o lugar do discurso da psicanálise diante desses fenômenos que estão cada vez mais enraizados na cultura e quais são os limites das adições na contemporaneidade.
Nessa direção, com o surgimento da Pandemia, fomos conduzidos em nossa prática a uma aproximação à internet e tecnologias associadas, totalmente inéditas. O uso de celulares e internet nas análises era apenas uma ferramenta de acordo com cada caso, no entanto, surge cada vez mais no campo tecnológico o uso de aplicativos, muitos com justificativas acadêmicas, para “tratar” alcoolistas e usuários de drogas. Hoje, após dois anos de pandemia, tornou-se fundamental nos determos sobre a realidade do uso da internet e tecnologias no campo de pesquisa das adições, assim como, pensar no aumento do uso de medicações estimulantes, calmantes e antidepressivos.
Nosso programa de trabalho será permeado pela leitura de textos, casos clínicos, discussão sobre o tema a partir de filmes consagrados e convidados externos para animar os debates.
Até lá!