DO ICP

Começar mais uma vez…

Novo semestre. Cada turma iniciará um novo curso e com o desejo de aprofundar sua experiência com o estudo da psicanálise. A experiência de estar diante de um ensino e de um aprendizado que só se dá desde um único lugar: o de analisante. Experiência de entrar em contato com um saber e um discurso que não tem nada de Universal. Um saber que não faz um todo. E cada um o toma e se serve dele à sua maneira.  Nesse sentido, ninguém faz tal experiência sem dar de si, sem entrar com seu corpo. Isso vale para todos os envolvidos no ensino do ICP: alunos, professores, pesquisadores dos Núcleos, enfim, todos. Mas há, também, algo que se ensina e que se aprende. A questão está no “como”. Há um corpo teórico que os mais de 120 anos da psicanálise já produziu, desde Freud, e que pode ser transmitido. Mas como bem descreveu Graciela Brodsky, para ensiná-lo é preciso ter  tocado os limites desse saber: “Ou se ensina o que se sabe, ou se ensina na borda mesmo do próprio saber, quer dizer, de um saber que respeita o furo no saber, que respeita S de A barrado; o saber está profundamente furado e o que falta não está no seminário [ou aula] seguinte”[1].  E só se aprende psicanálise do mesmo modo, menos tentando completar esse saber e mais tomando o que falta como causa, mas na direção de um saber não-todo. Daí a posição analisante: fala-se sem saber o que se diz, obtém-se um saber que é não todo e marcado pelas transformações subjetivas singulares daquele que escolhe o caminho da psicanálise.

Entraremos nesse semestre animados, todas e todos, não só pela novidade dos cursos, mas pela Jornada de Cartéis que a EBP-Rio promoverá no dia 10 de agosto, assim como pelas Jornadas Clinicas da EBP-Rio e ICP-RJ, que já têm nos colocado a trabalho em torno do tema: “A palavra e a pedra. Interpretação em análise”, e que acontecerão nos dias 4 e 5 de outubro.  Assim como pelo Encontro Brasileiro de Psicanálise de Orientação Lacaniana que acontecerá em São Paulo nos dias 8, 9 e 10 de novembro, com o tema “Corpos aprisionados pelo discurso, e seus restos”, para o qual muitos de nós já estamos trabalhando, seja na organização ou em cartéis. Em 30 de novembro, numa manhã de sábado, teremos, ainda, a Conversação dos Núcleos do ICP-RJ sobre o tema que nos provocou nos últimos anos: “O que é um caso de pesquisa para o ICP?”. O trabalho inicial se dará entre a Unidade de pesquisa sobre sexualidade e sexuação no contemporâneo, e o Núcleo Clínica e Política do Ato, passando em seguida para uma conversação entre todos os núcleos de pesquisa do ICP-RJ.

Mas gostaria de lembrar também que as Jornadas da Seção Rio e do ICP acontecerão nas vésperas de nossas eleições municipais, para as quais também chamamos a atenção de nossa comunidade. Nossas escolhas têm importância vital para a cidade e para a sustentação da psicanálise nela. Se faz urgente uma renovação dos nossos dirigentes e legisladores para garantir mais igualdade de direitos, mais acessibilidade à todas as minorias (não em número, mas em voz e poder), saúde e educação mais valorizadas, trabalho digno, dentre outros direitos básicos do cidadão desta cidade. Que cada um possa pôr de si também nessa transformação.

Bom semestre de trabalho a todas e todos!

Marcia Zucchi

Diretora Geral do ICP-RJ


[1]  Brodsky, G. Los psicoanalistas y el Deseo de enseñar.p.73. Buenos Aires: Grama. 2023.
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